terça-feira, 24 de março de 2009

Amigo, simplesmente amigo...

É o mais próximo da relação ideal que já me apresentaram. Diferente da relação com os parentes, é possível escolher se quer ou não ir ao aniversário dele, se quer passar o feriado junto, se quer que ele venha visitar no domingo. E, geralmente, a gente quer.
Diferente da relação com namorado/marido, a gente não precisa ser monogâmico e, principalmente, isso não significa que haja menos amor ou cumplicidade. É só que é um amor que se multiplica, ele não precisa ficar concentrado numa única pessoa. Assim, aquelas brigas por causa de desconfiança, de traição, de sentimento de posse desaparecem. Mas atenção! Isso não quer dizer que não haja ciúmes, afinal nem tudo é perfeito, já falei lá em cima.
Diferente das relações fugazes como aquelas que alimentamos todos os dias com pessoas que sobem no mesmo elevador no mesmo horário que o nosso, com quem se divide a sala de aula ou a baia do trabalho, ou com aquelas para quem ligamos pra saber “qual vai ser a boa para o fim de semana”, é uma relação que consome tempo, é preciso cultivar, já dizia o sábio Pequeno Príncipe. É o que torna aquele estranho, parente ou colega, em amigo.
Assim, mesmo não sendo imposta, não havendo laços de sangue ou exclusividade, a amizade talvez seja o mais genuíno sentimento. Afinal, a única coisa que pode ligar pessoas sem tudo isso e apesar de tudo isso, tem que ser muito especial e, acredito, é quase inexplicável.
Ter amigos significa que existem pessoas que gostam de você. Apenas isso. Não tem uma segunda intenção, a não ser compartilhar a vida (mas acho que esta é a primeira).

segunda-feira, 16 de março de 2009

Mi casa, su casa

Os desenhos dela na infância já davam pistas. Eram sempre pessoas com as malas na mão. Só levavam o que pudessem carregar e as pessoas amadas. Por isso não pareceu estranho quando ela fez as malas e vendeu todos os seus objetos por meio de um blog, a versão moderna do “Família vende tudo”. Cama, estante, luminária, enfeites. Ficou só com o que cabia na mochila e rumou para o Velho Mundo.
Ele chorou ao vê-la se desfazer de seus pertences, que eram parte de sua história e representavam parte de sua vida, as coisas que formavam seu lar. Ela explicou que aquela era só a sua casa. Até então. Seu lar seria onde ela estivesse, com sua mochila e as pessoas que importam, mesmo que fosse apenas na memória. Ele precisava de uma casa aconchegante, com porta-retratos, um porto seguro onde cultivar e guardar todos os objetos que considera especiais, mesmo que seja o jogo de louça trincado da avó. Ela precisa de liberdade inconsequente, seu lar seria onde coubesse suas lembranças e experiências.
Cada um tem o seu lar e o preenche com o que considera mais importante. E assim foi.