sábado, 11 de agosto de 2012

Porque os 30 são os novos 30


Nem bem deu tempo de fazer o balanço dos estragos e benesses que Saturno causou e lá vem a temida troca de dezena, os 30. A primeira, na verdade, que nos coloca para pensar. Com tantos amigos me lembrando de que a minha hora está chegando, a análise prematura é inevitável.
Nos piores dias, penso que, com quase 30 anos, não sou nem a sombra do que eu sonhava/pensava que seria, teria ou faria. Nos melhores, apenas consigo pensar: “Graças a Deus!”. O que eu achava que seria minha vida aos 30, acho que nem preciso enumerar porque imagino que é o que você também imaginava para a sua quando tinha 12, 18, 25 anos. Mas aí a vida acontece... E o que eu não imaginava que seria a minha vida é o que a faz valer a pena. Com 12 ou 18 anos, não pensava que viveria nos lugares em que vivi, conheceria os lugares por onde passei, faria as escolhas que fiz, conheceria as diferentes pessoas que fazem parte da minha vida, convivendo com elas ou não. Gente que me mostrou, apenas sendo quem são, sobre as possibilidades além do caminho tradicional que a tal balzaquiana deveria seguir.
Gente que vai além do discurso de largar o que é seguro e se joga de cabeça para viver na Bahia por amor a alguém e a uma causa; gente que encara lançar uma startup num país onde o investimento é difícil; gente que faz filme; gente que escreve livros; gente que emigra porque não se sente parte do lugar e da família onde nasceu; gente que decide “viver o sonho”, como uma vez uma desses amigos definiu sua vida de viagens pelo mundo com pouca ambição e muita diversão. 
Não são só as experiências dessas pessoas que me inspiram, mas o que elas fazem de suas vidas me faz acreditar que os 30 são os novos 30. Não quero a juventude burra, a certeza vazia e petulante nem o sonho medíocre dos 20 anos. Ao nosso favor está o fato de que os 30 não são o fim de nada. É o meio. E não ser o que sonhou pode ser surpreendentemente melhor. Aos 30 já somos mais independentes financeiramente e, quase sempre, emocionalmente. Já vencemos alguns daqueles entraves de autoconfiança. Já aprendemos um pouco mais sobre nós mesmos e sobre o fato de a vida não ser um videogame que controlamos o tempo todo. Na verdade, não controlamos em momento algum.  
“Viver o sonho” pode ser qualquer coisa. Pode, sim, ser se casar, ter filhos, uma casa com três quartos e duas vagas na garagem, um casal de filhos, um emprego estável e bem remunerado e férias na praia. Mas, os trintões de hoje em dia também podem pensar em não se casar ainda, casar-se e não ter filhos, casar-se e ter enteados, casar-se de novo, investir numa carreira sólida, investir na carreira que seu pai disse que não leva a nada, trocar de carreira, não investir na carreira.
Com tantas possibilidades, também percebo o sentimento de estar um pouco perdido. Esse amigo que “vive a vida” sem a menor dúvida sobre a sua, disse-me que não existe gente perdida, só pessoas que não aceitam com facilidade as regras e sonhos padrões. Para aqueles a quem não foi concedida essa certeza ou coragem ainda, acredito que podemos não saber o que queremos, mas sabemos o que não queremos. Não sabemos para onde vamos, mas não desistiremos.  E entre uma crise e outra, vivemos a vida da forma que nos apraz!
Como uma piada pronta, esse amigo que citei continua jurando que tem 29 anos, mas sei que ele já é, pelo menos, uns três anos mais velho do que eu. Talvez por isso ele não enfrente essa tal crise...