Nem bem deu tempo de fazer o balanço
dos estragos e benesses que Saturno causou e lá vem a temida troca de dezena,
os 30. A primeira, na verdade, que nos coloca para pensar. Com tantos amigos me lembrando de que a minha hora está chegando, a análise prematura é inevitável.
Nos piores dias, penso que, com
quase 30 anos, não sou nem a sombra do que eu sonhava/pensava que seria, teria
ou faria. Nos melhores, apenas consigo pensar: “Graças a Deus!”. O que eu
achava que seria minha vida aos 30, acho que nem preciso enumerar porque
imagino que é o que você também imaginava para a sua quando tinha 12, 18, 25
anos. Mas aí a vida acontece... E o que eu não imaginava que seria a minha vida
é o que a faz valer a pena. Com 12 ou 18 anos, não pensava que viveria nos
lugares em que vivi, conheceria os lugares por onde passei, faria as escolhas que fiz, conheceria as
diferentes pessoas que fazem parte da minha vida, convivendo com elas ou não.
Gente que me mostrou, apenas sendo quem são, sobre as possibilidades além do
caminho tradicional que a tal balzaquiana deveria seguir.
Gente que vai além do discurso de
largar o que é seguro e se joga de cabeça para viver na Bahia por amor a alguém
e a uma causa; gente que encara lançar uma startup num país onde o
investimento é difícil; gente que faz filme; gente que escreve livros; gente
que emigra porque não se sente parte do lugar e da família onde nasceu; gente
que decide “viver o sonho”, como uma vez uma desses amigos definiu sua vida de
viagens pelo mundo com pouca ambição e muita diversão.
Não são só as experiências dessas
pessoas que me inspiram, mas o que elas fazem de suas vidas me faz acreditar
que os 30 são os novos 30. Não quero a juventude burra, a certeza vazia e
petulante nem o sonho medíocre dos 20 anos. Ao nosso favor está o fato de que os
30 não são o fim de nada. É o meio. E não ser o que sonhou pode ser surpreendentemente melhor. Aos 30 já somos mais independentes financeiramente e, quase sempre,
emocionalmente. Já vencemos alguns daqueles entraves de autoconfiança. Já
aprendemos um pouco mais sobre nós mesmos e sobre o fato de a vida não ser um
videogame que controlamos o tempo todo. Na verdade, não controlamos em momento
algum.
“Viver o sonho” pode ser qualquer
coisa. Pode, sim, ser se casar, ter filhos, uma casa com três quartos e duas
vagas na garagem, um casal de filhos, um emprego estável e bem remunerado e
férias na praia. Mas, os trintões de hoje em dia também podem pensar em não se casar
ainda, casar-se e não ter filhos, casar-se e ter enteados, casar-se de novo, investir
numa carreira sólida, investir na carreira que seu pai disse que não leva a nada,
trocar de carreira, não investir na carreira.
Com tantas possibilidades, também percebo o sentimento de estar um pouco perdido. Esse amigo que “vive a
vida” sem a menor dúvida sobre a sua, disse-me que não existe gente perdida, só
pessoas que não aceitam com facilidade as regras e sonhos padrões. Para aqueles
a quem não foi concedida essa certeza ou coragem ainda, acredito que podemos
não saber o que queremos, mas sabemos o que não queremos. Não sabemos para onde
vamos, mas não desistiremos. E entre uma
crise e outra, vivemos a vida da forma que nos apraz!
Como uma piada pronta, esse amigo que
citei continua jurando que tem 29 anos, mas sei que ele já é, pelo menos, uns
três anos mais velho do que eu. Talvez por isso ele não enfrente essa tal
crise...