segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Hello Stranger

Segundo Caetano, de perto, ninguém é normal. Pois eu acho que o problema é que de perto, todo mundo é normal demais. Na vida real, o beijo do dia-a-dia transforma qualquer príncipe em sapo. As pessoas são como quadros impressionistas. Lindas paisagens que podem ser admiradas por horas naquele ambiente pomposo e silencioso do museu. Mas sempre à distância, atrás da cordinha. Ela serve para proteger a obra, assegurar que ela continue intocada, bonita. E talvez, sirva também para evitar o desapontamento de perceber que de perto, o colorido jardim se transforme apenas em borrões disformes numa grande tela.

Sim, eu assisti ao filme e à peça "Closer", com aquelas frases pontuais que acertam em cheio, dependendo da sua situação, a cabeça, o coração ou a boca do estômago. Amor à primeira vista, amor eterno, relacionamento perfeito, pessoas perfeitas. A busca obstinada de tudo isso é a combinação, essa sim perfeita, de uma bomba de altas expectativas que caem sobre os pequenos e grandes defeitos que cada um carrega. E eu acho que isso é ser normal.

Assisti também ao filme "Bonecas Russas"um dia depois de ver a peça. E a personagem Wendy resume a "elevação espiritual" que me (nos) falta. Ela diz que Xavier é o homem perfeito, embora até ele saiba que está bem longe do ideal de qualquer pessoa. O segredo é que ela se apaixona por ele. E por todas as suas imperfeições. Por sua vez, ele, um cara "normal", continua perseguindo a garota ideal.

Vivemos sempre em busca do ideal, do excepcional, abrindo o souvenir russo um a um, esperando que aquela seja a última boneca, a especial. E, ao chegar naquela pequeninha, a decepção do "era só isso" é quase sempre inevitável. Se todo mundo acha que ser normal é que é bom, por que ninguém, a não ser a Wendy, aceita a normalidade daquels que cruzam nosssos caminhos? Aqueles que deixam de ser estranhos perfeitos para se tornarem companheiros normais. E, por que não, adoráveis.