sexta-feira, 28 de maio de 2010

Aceite o mistério

O cronista Xico Sá diz que quando uma mulher começa a falar muito em astrologia é porque está insatisfeita e, provavelmente, o pobre mancebo levará cartão vermelho. Acho que não só as mulheres, mas o ser humano, está sempre tentando saber o futuro. Já ouvi falar que a coluna mais lida num jornal é o horóscopo. Depois, deve ser a parte que resume o que vai acontecer na novela. Afinal, a gente sempre quer saber o que o destino reserva aos personagens. Aí a gente vai ler a mão, borra de café, runas, mapa astral, tarô, vidente, santo que baixa e o que mais prometer nos tirar dessa angustia de não saber o que será do amanhã, rezando para que seja diferente do hoje.
Mas será que tira mesmo? No filme “Matrix” há uma cena em que o Oráculo avisa o Escolhido para tomar cuidado com o vaso. Ao perguntar a que vaso se referia, ele se vira e o derruba. A questão é: ele derrubaria o vaso se não tivessem avisado?
E o destino de Laio, Antígona e Édipo terminaria do mesmo jeito se rei não tivesse tentando tanto evitar o (in)evitável? Será que é melhor apenas esperar para ver o que acontece? Não fazer nada e aceitar o tal destino? Muitas perguntas e nenhuma resposta. É a conclusão que cheguei ao assistir ao filme “Um homem sério”, dos irmão Cohen.
Às vezes, a gente acha que está fazendo tudo certo, como manda o figurino, mas, um dia, você acorda e parece que não é suficiente. E queremos saber por quê. E quem pode responder? E mais, a gente vai acreditar nas repostas? E mais ainda, a gente vai esperar o que foi dito na resposta acontecer, vai fazer acontecer? Vai fugir? E a garantia? Soy yo!

sábado, 8 de maio de 2010

Melancolia virtual

Nesse negócio de rede social na internet em que se conhece pessoas com interesses afins, mantém contato com amigos numa outro plataforma, além da presencial, e “revê” pessoas que já passaram pela sua vida. Da escola, do bairro em que morava, da faculdade, dos empregos anteriores, dos locais pelos quais passou. Alguns desses reencontros trazem alegria, outros nem tanto. Hoje, enquanto escrevo, eles trazem à tona o meu lado melancólico. Pessoas que fizeram parte de um período, até de apenas um dia, da minha vida ganham valor simbólico. Do que poderia ter sido, lembram-me do que não foi e me faz querer outra coisa que não é isto aqui. De novo.
Se só houvesse a minha memória, essas pessoas teriam ficado exatamente naquele último momento em que nos vimos ou nos falamos. Mas elas têm uma vida também. Elas fazem coisas que talvez eu gostaria de fazer, elas estão com outras pessoas que não sou eu, elas estão em lugares em que eu gostaria de estar. Elas estão lá na minha rede social para me lembrar o que eu poderia ter sido, vivido, mas não é.