sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Reaprendendo

desapego de.sa.pe.go(ê) sm (des+apego) 1 Desafeição, desamor, indiferença. 2 Desinteresse. 3 Desprendimento. Var: despego. Antôn (acepções 1 e 2): amor, interesse. -Dicionário Michaelis

A palavra. Sempre ela. Assim, como a vida, talvez não deva ser levada ao pé da letra sempre, baseada na objetividade do dicionário ou das acepções impostas pelo meio em que vivemos.

Há pouco, aprendi um novo significado para "desapego". Após anos empregando esta palavra como sinônimo de indiferença, eis uma nova lição. Dessas que não se aprende na carteira da escola, mas nas lágrimas e no silêncio. Desapego não é desamor ou desinteresse, é aceitar que, um dias, as coisas, os sentimentos e as pessoas acabam. Desgastam, transformam-se, morrem. Desapego é aceitar a impermanência, inclusive a nossa.

Não é fácil assimilar essa descoberta, que parece tão óbvia, mas tão difícil de aplicar. O sofrimento de perder alguém, seja para a morte ou para outra pessoa, de perder bens materiais, de se afastar ou ser afastado é o apego. A questão não é deixar de amar, é aceitar que um dia acaba. Juro, não é crueldade. O contrário.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Psicanálise de balcão de bar

Realmente o auto boicote (com ou sem hífen?) é uma tendência do ser humano. Acho que um psicanalista explicaria essa hipótese dizendo que é porque a baixa autoestima (essa sim, sem hífen) faz crer não ser merecedor de coisas boas. Há também aqueles que sonham em fazer parte de uma novela, de preferência a la Maria do Bairro, achando que após todo o sofrimento, terá um "final feliz". Será que no fundo são todos um bando de masoquistas? O pior tipo é aquele que realiza o auto boicote e aida diz que "é porque Deus quer".
Não estou falando de boicotes em escala mundial, não. Nem tem a ver com a Guerra Mundial, com a fome na África, nem com a política nacional. É algo tão mais simples, como a insistência em amar sem ser correspondido, em dispensar uma experiência legal por medo ou qualquer outro sentimento boicotador ou em se agarrar a uma relação que já não mais existe (ou que nunca existiu).
Alguém pode me explicar que raios de tendência bizarra é essa?!

Caminho Suave - Parte I

Para alguns assuntos, não existe "jeito mais fácil de dizer". Pode até usar eufemismos, e rodeios como "o gato subiu no telhado..." ou "não é você, sou eu", mas o resultado vai ser o mesmo. Não há melhor forma de falar que alguém querido morreu, que você tem um câncer maligno ou que não me ama mais. Haja semântica para aliviar a dor que essas informações causam.
Infelizmente, nesses casos, não há palavra que faça passar esse sentimento.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Caixa de pandora

Parece uma panela de pressão. Todos os pensamentos fechados à vácuo. Os outros têm até medo de chegar perto. Aí, um dia ela decide começar a abrir, pelo menos uma frestinha ou irá explodir.
Mas, quem abrir essa caixa de Pandora tem que arcar com as consequências provocadas por cada palavra escrita, por cada fonema que os lábios pronunciam. Cada uma gera uma lágrima, que logo transforma a face numa cachoeira.
Agora, é aguardar o tal alívio da libertação, mesmo que feita de lágrimas. Nenhuma luta é fácil. Muito menos as internas. Porque essas, a gente luta sozinho, pois nem os aliados entendem a razão da guerra.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

London Sky

- "Você acha que as pessoas depressivas querem ser felizes? Não! Elas querem ser depressivas".

A tristeza é o laço que une ao que causa a dor. Uma pessoa, uma coisa, um momento. Permanecer triste é forma de não esquecer, de manter o objeto próximo, presente.
Será que os depressivos são os rebeldes que não aceitam o destino ou são os fracos que se rendem sem tentar lutar?



*****
Meio-dia, mas no céu já era noite. E ainda havia a chuva. Intermitente. Ela olhava pela janela. Inerte. A lágrima caía, como a chuva. Intermitente.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Melodroma pessoal

Tudo tem um fim. Esta é a lei da vida. E o que eu faço com essa informação? Devo me conformar? Esquecer? Renegar?
Hoje sonhei com você. Sonho bobo, difícil de achar um significado. Acordei com saudades. Mas tudo acabou. Só me resta chorar para externar a mina fúria, meu inconformismo, meu pensamento de que não é justo. De novo.
Sei que não estou sendo original, mas é tudo o que consigo fazer com essa informação.
Tudo tem um fim. E só me resta deitar e tentar sonhar novamente com você. Te amo. Só isso não tem fim.

terça-feira, 24 de março de 2009

Amigo, simplesmente amigo...

É o mais próximo da relação ideal que já me apresentaram. Diferente da relação com os parentes, é possível escolher se quer ou não ir ao aniversário dele, se quer passar o feriado junto, se quer que ele venha visitar no domingo. E, geralmente, a gente quer.
Diferente da relação com namorado/marido, a gente não precisa ser monogâmico e, principalmente, isso não significa que haja menos amor ou cumplicidade. É só que é um amor que se multiplica, ele não precisa ficar concentrado numa única pessoa. Assim, aquelas brigas por causa de desconfiança, de traição, de sentimento de posse desaparecem. Mas atenção! Isso não quer dizer que não haja ciúmes, afinal nem tudo é perfeito, já falei lá em cima.
Diferente das relações fugazes como aquelas que alimentamos todos os dias com pessoas que sobem no mesmo elevador no mesmo horário que o nosso, com quem se divide a sala de aula ou a baia do trabalho, ou com aquelas para quem ligamos pra saber “qual vai ser a boa para o fim de semana”, é uma relação que consome tempo, é preciso cultivar, já dizia o sábio Pequeno Príncipe. É o que torna aquele estranho, parente ou colega, em amigo.
Assim, mesmo não sendo imposta, não havendo laços de sangue ou exclusividade, a amizade talvez seja o mais genuíno sentimento. Afinal, a única coisa que pode ligar pessoas sem tudo isso e apesar de tudo isso, tem que ser muito especial e, acredito, é quase inexplicável.
Ter amigos significa que existem pessoas que gostam de você. Apenas isso. Não tem uma segunda intenção, a não ser compartilhar a vida (mas acho que esta é a primeira).

segunda-feira, 16 de março de 2009

Mi casa, su casa

Os desenhos dela na infância já davam pistas. Eram sempre pessoas com as malas na mão. Só levavam o que pudessem carregar e as pessoas amadas. Por isso não pareceu estranho quando ela fez as malas e vendeu todos os seus objetos por meio de um blog, a versão moderna do “Família vende tudo”. Cama, estante, luminária, enfeites. Ficou só com o que cabia na mochila e rumou para o Velho Mundo.
Ele chorou ao vê-la se desfazer de seus pertences, que eram parte de sua história e representavam parte de sua vida, as coisas que formavam seu lar. Ela explicou que aquela era só a sua casa. Até então. Seu lar seria onde ela estivesse, com sua mochila e as pessoas que importam, mesmo que fosse apenas na memória. Ele precisava de uma casa aconchegante, com porta-retratos, um porto seguro onde cultivar e guardar todos os objetos que considera especiais, mesmo que seja o jogo de louça trincado da avó. Ela precisa de liberdade inconsequente, seu lar seria onde coubesse suas lembranças e experiências.
Cada um tem o seu lar e o preenche com o que considera mais importante. E assim foi.