domingo, 27 de outubro de 2013

Férias

Eu só quero férias!
Férias de ter que saber de tudo o que acontece no mundo o tempo todo, incluindo as fofocas.
Férias de ter que ter uma opinião formada sobretudo o que acontece no mundo o tempo todo.
Mas tem que ser rápido porque amanhã, a pauta será outra.
Férias do trabalho.
Férias de falar sobre trabalho.
Férias de gente que só fala sobre trabalho.
Porque, afinal, sucesso é trabalhar muito, ter um título em inglês no cartão de visita e usar o tempor restante pra fazer happy hour e networking.
Eu só quero férias!
Férias pra não olhar o relógio, o celular ou qualquer rede social.
Férias pra poder olhar pra dentro, curar feridas, pisar na terra descalça.
O que vou fazer nas férias?
Viver um dia de cada vez.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Saudade,


Dizem que deus é onipresente, onisciente e que nunca nos abandona. Mas e você? Um dia você me abandonará?

Para mim, você é tão contraditória, assustadora e alentadora quanto deus. Depois que se instala, parece nunca mais ir embora. Você não se desgasta com o tempo como eu esperava, só vai emudecendo, mas continua me encarando. Às vezes, o olhar até tem uma certa doçura, que me faz ter uma fagulha de esperança, como quando nos encontramos em Veneza. Mas, às vezes, só de te olhar de relance, tenho vontade de chorar, como agora.

Paradoxal, a sua presença é diretamente proporcional à alegria que um dia senti. Quanto maior você é, maior era o amor e a felicidade que ficou para trás.

Você não se renova como a paixão, nem precisa de um estopim para se manifestar como a raiva, você não é fugaz como a euforia. Não, você fica lá, acumulando mais e mais.

Você é ausência. Como a falta pode ser assim tão robusta?

Sei que você não pretende ser triste, sei que você também gostaria de se libertar, mas estamos presas uma a outra, né? Porque de um jeito muito doido, você é a única ligação que tenho com aqueles momentos.

Saudade, você é muito louca.

Sempre sua,
Carol 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Sem título


Eu estava sentada naquela mesa sozinha. Ao contrário do que os olhares em volta sugeriam, não era solidão, apenas sou o tipo que aprecia a própria companhia de vez em quando, enquanto come algo ou toma um café. Eu não estava lá muito aberta a papo furado ou sorrisos educados e mentirosos, mas você chegou educadamente, puxou papo e eu deixei que se sentasse e também tivesse a honra da minha companhia.

Enquanto comemos, percebo que é agradável, apesar da primeira impressão não ser bem esta. Você é engraçado, mas não do tipo bobo, e percebe o que nenhum outro que já se sentou naquela cadeira havia entendido. Eu não quero falar sobre como você é bem sucedido ou sobre a minha carreira promissora. Eu já faço isso pelo menos oito horas por dia de segunda a sexta com um monte de gente. Adicione aí o sorriso educado e mentiroso.  Eu não quero falar sobre o último filme iraniano nem sobre a sua posição política meio de esquerda, meio intelectual (como Antônio Prata bem descreveu o tipo). Para isso, sento no bar de mesa de alumínio na calçada da Paulista com um bando de gente que mal conheço.
Não, passamos horas falando sobre o que vivemos, o que somos, o que desejamos. De repente, brota uma admiração por um completo estranho. Você não tem nada a ver comigo e, por isso mesmo, sinto-me completamente atraída. Você gosta de coisa que não conheço, fala sobre assuntos sobre os quais nunca pensei, de experiências que nunca tive, mas que começo a desenhar na minha cabeça só de ouvir a sua narração apaixonada e até ingênua, às vezes.
Mas você também quer ouvir as minhas histórias ordinárias e percebo que enquanto eu falo com a boca, as mãos, os olhos, você também se encanta. A partir daí não sei mais como agir. Levantamos-nos porque já está tarde e caminhamos aparentemente sem rumo, embora nós dois já saibamos onde isso vai dar. Eu falo loucamente, pois, nesses momentos, todo aquele papo de serenidade e maturidade vai pelo ralo e tenho medo, mas não quero recuar. Você olha para mim, sorri e eu não consigo pensar em mais nada para dizer. Beijo. O silêncio se faz.
Você sorri com os olhos, em silêncio, e continuamos andando, agora de mãos dadas, o que me faz sentir de novo com 14. Mas a sensação é muito melhor do que quando era adolescente – com muito mais confiança - coisa que só a experiência e o tempo proporcionam. Antes de entrar naquela casa, você para, me olha, de verdade, e me beija novamente. Sabemos que quando ultrapassarmos aquela porta, os adolescentes ficarão lá fora.
Na cama, não há sinos, música de fundo, nem slow motion como achava quando mais nova, contudo a realidade é tão melhor do que um filme de classificação indicativa 14 anos...

De manhã, vou abrir os olhos e ver que seu braço ainda me abraça. Calmamente, a gente vai tomar café da manhã juntos e conversar sobre amenidades. A vida lá fora continua e temos que trabalhar. Você vai abrir a porta para eu sair, vamos nos abraçar carinhosamente e você não vai me prometer nada. Obrigada.